O navio transatlântico Friedrich Heinrich, também chamado de Frederico Henrique, de propriedade do armador bremense F.C. Delius, possuía três mastros e estava munido de canhões. É um barco irmão do veleiro Friedrich, também pertencente ao armador Delius, de Bremen, e que veio para o Brasil em 1826 [1].
O Navio Friedrich Heinrich, navegava com a bandeira da cidade de Bremen, porém não partiu de Bremen, e sim de Amsterdam, em 25 de Agosto de 1825. Sob os comandos do capitão Peter Zink, o navio veio com 375 passageiros (70 famílias com 364 pessoas mais 11 solteiros) e ancorou no porto do Rio de Janeiro, em 8 de Novembro de 1825 [1].
Segundo Aurélio Porto [2], estes imigrantes representavam “a flor da colonização alemã, desdobrando-se até a atualidade em famílias numerosas e ilustres, que honram a cultura do Rio Grande do Sul e seu progresso nas indústrias, no comércio e em outras atividades”. Ainda de acordo com ele, o imperador Dom Pedro I, “os acolheu benignamente, não só indo a bordo recebê-los, como cercando-os de todo agasalho”. E de fato, a lista de passageiros [3] menciona que o Imperador “benignamente mandou receber e tratar como os mais Colonos”, porém não menciona a ida do Imperador ao navio.
A lista de passageiros [3] também menciona que os colonos vieram sem intervenção alguma do Major Jorge Antônio von Schäffer, que na época recrutava militares e colonos alemães para o Império do Brasil. Estes imigrantes, diferente de outros navios da época, tiveram de pagar a passagem para o Brasil, sendo que alguns destes não quitaram a sua dívida com o Capitão Peter Zink, deixando uma dívida de 5.537 florins. Segundo um documento descrito por [1] o governo teve de assumir a dívida com a condição de que os colonos devolvessem a importância num prazo de cinco anos, instituindo-se, para tal fim, fiadores entre os próprios colonos. Esse documento encontrado por [1] no Arquivo Histórico de Porto Alegre trata-se de um ofício, datado de 10 de dezembro de 1825, assinado pelo Visconde de Barbacena e dirigido ao Inspetor da Colonização Estrangeira no Rio de Janeiro (até o momento não encontrei este documento, se alguém tiver informações, entre em contato). Em seu livro, [1] transcreve este documento, contendo o nome dos devedores e dos fiadores. Na lista de devedores não encontramos nenhum Scherer, porem encontramos Felipe Scherer como fiador de Pedro Jacoby, este devia a quantia de 100 Florins.
Antes de embarcarem para o Rio Grande do Sul no dia 03 de dezembro de 1825, os imigrantes do Friedrich Heinrich assistiram as festividades realizadas para comemorar o nascimento de Dom Pedro II no dia 2 de dezembro de 1825, no Rio de Janeiro. Sobre este momento [1] conta: ”por motivo de tão jubiloso evento, troaram 21 tiros de canhão e espocaram milhares de foguetes, ao repicar de todos os sinos do Rio de Janeiro, os imigrantes, ainda não a par do acontecimento, se assustaram pensando haver rebentado uma revolução…”
Entre os passageiros do Friedrich Heinrich, encontravam-se Johannes Scherer e sua família. Mais precisamente: Johannes Scherer, sua segunda esposa Maria Cristina Elisabeta Jacoby e os filhos: Johann Jacob Scherer, Conrad Scherer, Johannes Scherer, Peter Scherer e Philipp Scherer. Parte da lista onde aparecem pode ser vista na figura abaixo, vale lembrar que muitos nomes foram aportuguesados em documentos antigos, e muitos apresentavam erros ortográficos.
A família Scherer, com 7 integrantes, foi a sexta a ser adicionada à lista. Nela constam:
1) João Scherer (Johannes Scherer), com 55 anos, casado, lavrador e vindo de Saxe Coburg.
2) Maria Christina (Maria Cristina Elisabeta Jacoby), sua segunda mulher com 41 anos.
3) Jacob (Johann Jacob Scherer), filho do chefe no seu primeiro matrimônio, com 20 anos, solteiro e lavrador.
4) Conrado (Conrad Scherer), filho do chefe e da sua atual mulher, com 16 anos.
5) João (Johannes Scherer), com 10 anos.
6) Pedro (Peter Scherer), com 4 anos.
7) Filippe (Philipp Scherer), com 2 anos.
A lista na íntegra pode ser vista clicando aqui.
Entre os anos de 1824 e 1825 chegaram a São Leopoldo um total de 1.027 imigrantes em onze levas de colonos alemães. Como comentado anteriormente, os imigrantes vindos no Navio Friedrich Heinrich com destino a São Leopoldo foram divididos em 3 barcos: o bragarntim-escuna Galvão, que veio na décima leva, e as sumarcas Delfina e Protector, ambos vindos na décima primeira leva).
A décima chegou a São Leopoldo no dia 29 de dezembro de 1825 com 347 pessoas, sendo 58 famílias (296 pessoas) e 51 solteiros. Esta é a leva mais numerosa de todas as chegadas à colônia de São Leopoldo durante o biênio 1824/1825 e, dois dias depois, em 31 de dezembro, chegaria a última leva, com mais 147 pessoas. Ao todo, nestes últimos dias do ano, chegaram 494 pessoas,o equivalente a quase 50% do total de imigrantes que chegaram à colônia de São Leopoldo no biênio 1824/25 [1].
Johannes e sua família estavam na décima leva, mais precisamente, a família veio no veleiro bragantin-escuna Galvão, que saiu do Rio de Janeiro no dia 03 de dezembro de 1825 com 218 passageiros (34 famílias com 212 integrantes e 6 avulsos) e chegou no dia 29 de dezembro de 1825.
Encontramos o aviso do governo, que informa sobre o envio dos 3 barcos (Galvão, Delfina e Protector) e repassando a lista de passageiros. Parte do aviso pode ser visto na figura abaixo, este é o trecho escrito antes da lista de passageiros do bragantim-escuna Galvão.
Infelizmente, o registro da família de Johannes na lista de passageiros está rasgada e em duas folhas, por isso fiz uma montagem com as partes do registro, que pode ser visto na figura abaixo.
A família de Johannes é a 6ª família registrada na lista, e seus integrantes estão numerados de 23 a 29, apesar de rasurada, podemos identificar os nomes, segue a transcrição:
23 João Scherer, casado (Johannes Scherer)
24 Maria Christina, sua 2ª esposa (Maria Cristina Elisabeta Jacoby)
25 Jacob, enteado da 2ª (Johann Jacob Scherer)
26 Conrado, filho do chefe de família e da sua atual mulher (Conrad Scherer)
27 João (Johannes Scherer)
28 Pedro (Peter Scherer
29 Felippe (Philipp Scherer)
O aviso do governo, na íntegra, está disponível em [4] para visualização.
Todos os imigrantes deste período que chegaram a São Leopoldo, eram registrados em uma lista escrita cuidadosamente por Dr. Daniel Hillebrand. Essa lista, conhecida por Codice C333, contém o registro dos 7.465 imigrantes chegados a São Leopoldo no período de 1824 a 1853, em ordem cronológica. A Figura 5 mostra o registro de entrada de Johannes e sua família sob a data de 29 de dezembro de 1825.
A lista apresenta dois índices, sendo o primeiro o número referente ao índice de entrada no dia 29 de dezembro de 1925 e o outro é o global de colonos que entraram desde 25 de julho de 1824. Segue a transcrição desta lista:
192 - 601 João Scherer (Johannes Scherer)
193 - 602 Maria Elisabeth (Maria Cristina Elisabeta Jacoby)
194 - 603 Jacob (Johann Jacob Scherer)
195 - 604 Conrad (Conrad Scherer)
196 - 605 João (Johannes Scherer)
197 - 606 Pedro (Peter Scherer)
198 - 604 Felipp (Philipp Scherer)
199 - 608 Uma filha não batizada (Maria Catharina Scherer)
É interessante notar que esta lista apresenta uma pessoa a mais “ Uma filha não batizada”. De acordo com [6], essa filha não batizada seria Maria Catharina Scherer, nascida mais tarde, em 25 de janeiro de 1826 na Feitoria Velha em São Leopoldo. O códice C333 original está disponível para visualização em [5], para mais informações existe também a lista transcrita e incrementada com outras informações [6].
[1] HUNSCHE, Carlos H et al. O Biênio 1824/25 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul: província de São Pedro. Porto Alegre: A Nação, 1975.
[2] PORTO, Aurélio et al. O Trabalho Alemão no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Graf. Santa Terezinha, 1934.
[3] Lista de Passageiros: Friedrich Heinrich. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/17OwYGFH3YqS9xB3lZJqHhB6WWFXl2tOy/view?usp=sharing. Acesso em: 25 abr. 2021.
[4] Aviso do Governo 28-11-1825. FamilySearch Imagens 2165 a 2174. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:3Q9M-CSXD-17L4-X?i=2164&cat=1148361. Acesso em: 29 abr. 2021.
[5] Codice C333. FamilySearch. Disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:3QS7-L979-M9ZG-G?i=25&cat=4135172. Acesso em: 29 abr. 2021.
[6] ROSA, Gilson Justino da. Imigrantes Alemães: 1824-1853. Porto Alegre: Est Edições, 2005.